domingo, 22 de novembro de 2009

No ar rarefeito


A ansiedade vem aumentando a cada dia. As motos e o carro de apoio já estão quase prontos. As roupas, equipamentos de motociclismo, e os aspectos econômicos estão sendo finalizados. As mentes estão focadas, mas, e os corpos? Estará o organismo preparado para enfrentar as dificuldades da longa viagem? Além das costumeiras dores nas costas, mãos, e região glútea, muito comuns em viagens de carro e moto, dessa vez os estradeiros vão enfrentar uma situação diferente, a altitude.

Certamente, os pulmões e coração acostumados à abundância de ar no nível do mar vão apresentar algum tipo de reação nas elevadas estradas andinas e no Altiplano. O acréscimo de altitude está associado à diminuição da pressão atmosférica e da disponibilidade de oxigênio no ar. No ar rarefeito ocorrem alterações no conteúdo de oxigênio no sangue e a decorrente diminuição na quantidade de oxigênio fornecida aos tecidos. Em condições normais, nosso organismo se adapta sem apresentar sintomas em altitudes de até 2000 metros acima do nível do mar. Desse ponto até 4000 metros, a diminuição de oxigênio é mais acentuada e os sintomas aparecem.
 
A freqüência respiratória aumenta, os batimentos cardíacos se aceleram e a concentração de glóbulos vermelhos, que transportam o oxigênio para os músculos, aumenta no sangue. Os sintomas mais comuns são respiração curta, dores de cabeça, náusea, vômitos e tontura. A insônia aparece em dois terços dos casos, e a perda de apetite atinge um terço das pessoas. A visão é o primeiro sentido a ser afetado pela diminuição de oxigênio tecidual, sendo observada pela diminuição da visão noturna. Nota-se enfraquecimento e descoordenação da musculatura extra-ocular, gerando borramento visual para perto.

É quase impossível prever quem vai sentir os efeitos da altitude. Aproximadamente 15% das pessoas sentem algum sintoma a 2.000 metros acima do nível do mar. O índice sobe para 60% quando se chega a 4.000 metros. Acima dos 5.000, todas as pessoas sentem algum tipo de efeito negativo. Qualquer pessoa pode sentir os sintomas e fatores como idade ou sexo não são determinantes. Uma característica que muito pesa na definição de quem sofre ou não com a altitude é a condição física. Quem está com bom condicionamento físico suporta melhor a situação. Porém, bom preparo físico e fôlego em dia, não garantem totalmente que uma pessoa ficará livre dos sintomas.

A melhor alternativa é subir aos poucos, viajando a alturas sucessivamente maiores com tempo suficiente para a adaptação. Quanto mais rápida é a chegada e mais alto é o destino, piores são os sintomas. Quem não tem tempo para fazer a adaptação deve tentar chegar ao destino com uma boa condição física. Recomenda-se caminhar ou correr com frequência nas semanas que antecedem a viagem. O uso de medicamentos para combater os males da altitude é polêmico. Muitos médicos não gostam de receitar substâncias que ajudam a metabolizar mais oxigênio. Soluções mais seguras são a aspirina, a cafeína e, nos países andinos, o chá de coca, substâncias capazes de amenizar os efeitos da altitude. Em caso de dúvida é aconselhável procurar um médico antes da viagem. Pessoas que sofrem problemas pulmonares ou cardíacos obrigatoriamente devem procurar um médico antes da partida para as altitudes pobres em oxigênio.



O Projeto Andes inclui vários trechos com altitudes acima de 3000 m e passagens por altitudes superiores aos 4000 m. O Paso de Jama na fronteira entre Argentina e Chile fica a 4300 m acima do nível do mar. Na Bolívia, além de La Paz, as cidades de Oruro, o Salar de Uyuni e o Lago Titicaca estão acima dos 3500m. No Peru, Puno, localizada nas margens do Titicaca, está a 3800m de altitude e em Cusco chega-se a 3.400 metros.

A altitude deve ser levada a sério pelos viajantes e qualquer sintoma deve ser considerado. Se o viajante não cometeu excessos na alimentação, no consumo de bebidas alcoólicas ou de atividade física e sofre sintomas fortes demais, recomenda-se procurar um médico. Se os sintomas não desaparecerem com o tempo, precisam ser examinados. A solução em casos de falta de recursos é procurar descer para altitudes inferiores aos 2000m.